Vicente Fialho
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O ENCANTO DAS TARDES NORDESTINAS
                                                                                                                                                                                               Botucatu, 4 de novembro de 2023

O entardecer no Nordeste do país se revela de um cenário de harmonia entre cores e sons, marcando o início da noite. A natureza, nesse momento, assume o papel de um sábio orador, sussurrando ao mundo que é chegada a hora de repousar e buscar abrigo.
Nossa rotina nessa pequena comunidade segue um ritmo próprio. Com a aproximação do anoitecer, os animais domésticos anunciam a proximidade da noite, preenchendo o ar com um coro peculiar. Os galinheiros ecoam de cacarejos, enquanto os pássaros, com seus cantos e o bater suave das asas, encontram seus refúgios. Os cabritos, por sua vez, balam impacientes, ansiosos por seu alimento.
Meu pai, que vem da roça, desempenhando seu nobre papel de provedor da família e dos animais. Com um saco de comida nas mãos, sua serenidade característica e um profundo senso de responsabilidade, ele distribui os grãos com precisão, garantindo que cada ser receba sua justa porção. Sua ação é admirada por todos os membros da família, que reconhecem o cuidado inato que ele oferece.
Minha mãe desfruta do aconchego de uma rede suspensa, tecida com embira retirada das palhas do tucunzeiro. Deitada ali, ela se entrega a suas preces, sintonizando-se com o programa da Ave Maria no rádio. Um silêncio reverente permeia o ambiente, como se todos os elementos da natureza se unissem nessa prece. Nesse momento, ela eleva seus pensamentos a Deus, encontra paz e apresenta a Ele cada um de seus 14 filhos, espalhados pelas grandes cidades, em busca de novas oportunidades.
Enquanto meu pai zela pelos animais e minha mãe busca proteção divina para numerosa prole, eu observo todo esse cenário de cuidado. Sentado à porta da casa, absorvo com gratidão cada detalhe da nossa vida familiar. Reconheço o valor da simplicidade e da devoção que preenchem nosso lar.
O entardecer, à medida que avança, traz uma sensação de segurança e tranquilidade. Nesse ambiente, não há espaço para preocupações com roubos, assaltos ou guerras. A maior "guerra" que experimentamos ocorre na hora de dividir com os vizinhos o que temos, seja legumes ou até mesmo carne. Nossos filhos que ainda estão presentes naquele momento prontificam-se em levar esses “presentes”, em um gesto de solidariedade que demonstra o verdadeiro significado da comunidade.
Essas tardes e noites no Nordeste são preenchidas com simplicidade, devoção e amor. Cada membro da família desempenhava seu papel com dedicação, encontrando refúgio em seus rituais sagrados. O lar se revela como um local onde os valores mais profundos são a fé, a solidariedade e o cuidado mútuo. E, ao fim do dia, nada mais é necessário. É um refúgio de paz em um mundo repleto da sabedoria divina.
Vicente Fialho
Enviado por Vicente Fialho em 17/11/2023
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